domingo, 26 de dezembro de 2010

Ano novo, história velha

Sempre que nem bem o estômago conseguiu digerir a montanha de guloseimas engordativas do Natal, e os ouvidos ainda não se esvaziaram do: 
-Você não vai pegar mais carne/perú/chester/pernil/bacalhau? Você não quer carne de porco porquê?
E lá vem a explicação nutricional e gástrica pela milésima vez - e o preparatório para a data que mais amo na vida vem: o ano novo na praia.

 Amo a areia porque ali todos são iguais, expostos, e amigos, solidários. Sempre tem uma alma bendita para correr atrás do guarda sol que o vento adora carregar quando estou a quatro ondas de distância da areia. E o vento fica ali, olhando e rindo. da correria, do agradecimento, do chapéu que vai parar nas providenciais mãos de outra pessoa que oferece um sorriso. Ali não tem pobre nem rico: é todo mundo avermelhado, gordinho, com dobrinhas de boa alimentação, alguns poucos esqueléticos ou de um branco arrozeado como frango congelado. Mas todos iguais por serem tão diferentes.  Nada daqueles modelos cabides de ossos. Raramente. E absolutamente recebendo a mesma dádiva dos deuses que é o mar e suas ondas deliciosas massageando o corpo e o sol. Uma luz que chega a doer. 
Na hora da virada de calendário, aquele monte de gente que nunca se viu se desejando bebadamente felicidade, por isso talves de uma maneira pura, já que in vino veritas (*). Na hora de imagináriamente entrarmos num ''novo tempo'' tão apregoado por Ivan Lins,  gente de roupa nova e linda arranca sandália da humildade, que geralmente é prateada ou dourada e se lambuza nas ondas do mar e volta invariavelmente suja pra uma duchinha rápida só ali da canela pra baixo e desmoronar no colchão lambuzada de hidratante com cheiro de mato pretextando naturalidade, doida pra acordar depressa e ver o sol nascer caminhando descalça na areia.
Mas, nem sempre é assim, por isso coloco aqui este cartão antigo:
Diz:
Te desejo sorte, e pra mim também 
melhor sorte no ano que é novo
e que dure até que o ano fique velho
e nunca te deixe pra fora no frio

Aprendi inglês recebendo e trocando música, poemas, versinhos, aprendi tanta coisa e ainda não prendi a lidar com o ser humano!
Desejo que vocês tenham não só tudo que vem no cartão velhinho resgatado do fundo de uma caixa imensa, mas que recebam a dádiva de ignorar o mal.






(*) expressão que significa no vinho a verdade, alegando que a bebedeira destrava a verdade.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal: festa ou depressão?

Assim como o haloween tem o seu mote trick or treat o natal deveria ter o mote acima.
Desde o início dos tempos se comercializa a data como exibição de família feliz numa mesa cheia de comida e não só alimento físico, mas carinho e etc...
Muitos ainda caem nesta armadilha comercial e se deprimem por não terem dinheiro para atirar aos interesseiros de plantão e com isso conseguir seus abraços de tamanduá e sorrisos clareados de acrílico.
Meu amigo H. que suicidou-se  sexta feira passada, não suportou o peso imposto pela cobrança de uma carteira recheada para espalhar no natal. Deus ampare sua alma no céu e lhe dê um natal de verdade, com todo acolhimento que somente aqueles que são fiéis a sua consciência e não aos bens materiais merecem.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Auto-história do punk brasileiro


Interessantíssimo, o livro de Antônio Carlos de Oliveira , visceral, sem maquiagem editorial, do qual li um pedacinho que ganhei por e-mail (este natal está se superando) 

retrata a "situação de caos ideológico" presente não só naquele movimento mas no undergound, como tenho relatado aqui nas minhas vivências.





Eu não tenho o prazer de conhecer este autor embora ''batesse cartão'' no metrô São Bento na época do surgimento do movimento paulistano, e ali todos tínhamos apelidos. 

Obra ideal a todos os que , sem preconceito, quiserem saber mais sobre a história dos fanzines punks e de um momento da história da cultura brasileira absorvendo a universal, mesmo com a ditadura militar.


sábado, 18 de dezembro de 2010

E então é fim de ano!

Eu já nem falo natal, porque isto se tornou uma peregrinação atrás de pano de bunda (como os cariocas chamam roupa para os doentes viciados em reparar e comprar os ditos cujos) e agora com o twitter e outros os globestas, zé ruelas e maria novelas de plantão ficam discorrendo sobre. Poucos são capazes de fazer desta época grotesca em que se transformou a comemoração do aniversário de Jesus Cristo (e do Humberto Gessinger entre outros), um momento bacana. De desejar tudo de bom para as pessoas queridas (e secretamente o pior às desafetas), de compartilhar coisas que amenizem o fato de que as pessoas se reunem para competir, rivalizar e com aquela cara de congraçamento sai todo mundo frustrado e infeliz. Eu, particularmente, doida pra chegar o ano novo na praia. Só eu e Deus a beira do mar começando um ano novo.
Porém, como sou viciada em sonhar e cantar Christmas Carols nesta época, mesmo que isso demande uma viagem à lugares que odeio, onde canto com o coral de língua inglesa em hospitais aos companheiros de infortúnio, desejo aos que amo que o ''ango'' da guarda esteja de plantão neste final de ano e lhes garanta muita paz, a serenidade de uma fluoxetina e a alegria de um bom porre!
Por isso coloquei a magnífica pérola do Kibe Loco.
E orquestrada pela música maravilhosa que embala os natais desde o início dos tempos e mais a do John Lennon que foi esculhambada no Brasil, se eu não voltar aqui antes dos feriados, um beijão a todos!
E quem foi avesso aquelas reuniões e não tiver um Jingle hells pra ir, desejo que ''durma em paz celestial'' (sleep in heavenly peace)!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma pitada de molho livre!

É com enorme alegria que publico esta visceral entrevista do não menos polêmico Diego Khouri, meu querido amigo e ''sobrinho'' do coração!
Diego, filho da exclusão. fale, um pouco sobre esta exclusão, quem são os que te excluem? Quais as motivações deste grupo?
Parece que a Morte, única deusa pagã que me abraça anda me espreitando desde meu nascimento como uma possessa sangue suga sem pudor e paz. Andar na corda bamba enfrentando situações limites é algo inerente ao meu espírito. Sofri desde bem novo o tão famoso bullying que hoje na mídia virou matéria de audiência. Chute na saco, cuspe na cara, humilhações diversas, exclusão total. Era visto como um ET. Um bicho coagido e sem graça. O palhaço sem humor, com uma cara de sonso que não sabia se portar como as outras pessoas em nenhum ambiente. O clown assustado. Meu grande pecado: gostar de arte. Ahh arte, grande filha da puta do caos dos sonhos! Isso desde bem novo. Primeiro veio a exclusão na família, depois fora dela. Em contraposição as humilhações que sofri eu ia compondo poemas, desenhando sem parar e tudo com uma abordagem totalmente transgressiva e dilacerante. Escrevi inclusive aos oito anos de idade um livro de 100 páginas chamado REI VERGONHA, onde revelo meu ego, minhas inquietações, revoltas e desejos. Apesar do título singelo o livro contava com cenas de chacina, suicídio e tinha nele embutido uma visão idílica da sociedade, um sonho de mudança e o amor dominando enfim todas as atitudes do homem. Uma ilusão naquela época ainda tão sonhadora. As porradas da vida me levaram ao punk rock e absorvi em minha personalidade toda aquela carga niilista e pesada do estilo e passei a  enfrentar as pessoas sem medo algum e minha poesia e desenhos nessa época começaram a ficar de fato indigestos para a sociedade geral. Depois foi a chantagem dentro da própria família. Eu perante a Morte, doente, com a boca no vaso durante quatro dias. Parentes rindo de minha condição inferior naquele momento. Erro médico. Dezesseis dias sem comer e sem soro e dreno. Trinta quilos a menos. Erro em cima de erro. Furaram meu intestino e minha alma. Nunca mais me equilibrei.
Quem mais te inspirou e quais os autores, músicos, artistas, enfim que mais te impressionam?
 O primeiro poeta que me chamou a atenção foi Fernando Pessoa. Eu devia ter uns oito anos de idade. Me marcou profundamente aquela sua linguagem irônica e intensa, embora pela idade, algumas coisas naquela época ficaram no ar. Depois, mais tarde, aos quatorze anos de idade, li dois sonetos do Augusto dos Anjos que me chocaram muito. Cheguei a vomitar fisicamente e psicologicamente. “Versos íntimos” e “Psicologia de um vencido”. Nunca mais fui o mesmo. Sempre encarei a arte como um núcleo visionário de mudança interior. Não admito a possibilidade de alguém ler Rimbaud e não mudar de vida. Eu encaro a arte como uma porrada. Uma ferida sem cura. Um desvio alucinante da mente. Assim como o sexo, as drogas, as bebidas, as sensações etílicas, os estados fantásticos, a poesia dá um barato fundamental pra vida, como já nos dizia Paulo Leminski. Mais tarde veio a literatura romântica, o simbolismo, surrealismo, todos movimentos de vanguarda, a geração beat, a filosofia de Nietzsche, Schopenhauer,o magnetismo poético de William Blake, a pintura de Frida Kahlo, René Magritte, Toulouse Lautrec, o rock n’ roll, jazz, bossa, nova, blues, a minha experiência pessoal com o xamanismo e ayahuasca, minha participação em escolas de filosofia, meus dias no hospital, minha revolta, o cinema de Glauber Rocha, Stanley Kubrick e Sylvio Back, os fanzines dos anos 70, Angeli, Glauco Mattoso, Marquês de Sade, Arrigo Barnabé, a MPB dos anos sessenta, as noites de porre, as ressacas, as horas angustiantes nos ônibus lotados, a agonia de um escritório asfixiante, e tudo, tudo isso me inspira e ainda me impressiona e me leva a criação. Eu faço poesia num desespero sem tamanho, numa dor sem igual; claro que há também momentos de prazer e realização, mas isso eu deixo bem vivo na memória para que eu não fraqueje e caia novamente.
 Um poeta e artista plástico, já li no seu blog muita coisa interessante e bastante visceral, de onde vem tua inspiração? Qual teu trabalho favorito na escrita e nas as artes plásticas?

A minha inspiração vem de minha necessidade de respirar e não conseguir. De tentar me libertar e ver na imobilidade da existência um câncer sem fim. De me entregar à vida e me ver preso nas amarras da monstruosidade “burrocrática” e tecnocrática exagerada de nossos tempos. De olhar para o céu e clamar a divindade uma luz e só ver trevas. Mas parece que agora começa se apontar uma pequena luz e estou no seu encalço como um doente atrás da cura. De todos os meus trabalhos o que mais gosto é aquele que eu pego, vejo e sinto as mesmas sensações que senti no ato da criação. Enquanto João de Aruanda continuar me guiando penso que não desistirei dessa jornada tão cheia de espinhos. Parece clichê, mas ainda ei de respirar.


CAMA SURTA: um blog que muitos curtem mas que você classifica como desimportante e até como "cagatório de experimentos".  Por que esta definição tão crua?
 Esse blog eu fiz com uns amigos, pois tínhamos um projeto de fazer zines e também divulgar na internet nossas idéias. Começou com o fanzine VERTIGEM. Mas vi que só eu estava empenhado, me dedicando o tempo todo, correndo atrás; abandonei o grupo e o projeto morreu. Depois criamos por insistência dessas mesmas pessoas o CAMA SURTA e nada. Esse blog é resquício dessa época. Depois de muito tempo, mesmo sendo leigo pra caramba em computador criei o fanzine impresso com esse mesmo título (CAMA SURTA), que defini como “folhetim coprofágico filosófico desimportante” ou cagatório de experimentos, que é pra combater essa arte extremamente técnica de nossos dias, uma volta a um certo  parnasianismo, mas um parnasianismo sem graça e pedante. “Poetas de gabinete”, pegando uma afirmação de Roberto Piva para traduzir como anda a poesia hoje --Totalmente racional. Por isso nesse fanzine eu trabalho na fronteira entre o belo e o torpe. Inclusive na capa da segunda edição coloquei a foto de um órgão sexual feminino e isso causou inúmeras polêmicas. A poesia do delírio dos ditirambos morreu junto com essa era pragmática e sem utopia. O mundo alternativo, ou underground, como queiram dizer, está aí para tentar resgatar os valores atemporais platônicos poéticos delirantes que foi esquecido ou camuflado. Mas Ainda há muita coisa boa por aí. O Fabio da Silva Barbosa, Eduardo Marinho,  Wagner Teixeira, Ivan Silva, Winter Bastos, Alexandre Mendes,  entre tantos outros artistas, que ainda fazem valer a voz da literatura abrindo os olhos das pessoas apontando para novos rumos que não seja apenas  a obscuridade desse consumismo exagerado, essa mesquinhez bandida,  e todas essas ilusões que só levam ao vazio e ao nada.
Teu mais novo projeto, Molho Livre, onde tive a honra de aparecer, tem causado controvérsia. Fale um pouco sobre os seus objetivos.
 O blog Molho livre tem nada a ver com o fanzine. O molho vem da idéia “molho de chaves”, bagunça, loucura, junção, etc. Livre é a liberdade de imprensa que tanto valorizo e que hoje só existe na cultura alternativa. O fanzine MOLHO LIVRE  é uma revista de poesia visual, concreta, com poemas e aforismos. Um órgão de imprensa sem licença, como costumo dizer. O Cama Surta já é de entrevistas, poemas marginais, textos teóricos. Tive a honra de entrevistas grandes artistas como o Glauco Mattoso, A Wild Blumen, Queiroz Filho. O blog Molho Livre portanto, é uma mistura do Cama Surta e do Molho livre impresso. Difícil explicar essa bagunça toda né (risos). Meu novo objetivo é continuar editando zines, publicar livros e expor meus quadros.
Quais seus livros inéditos, "conta um pouquinho pra gente"!
 Vou lançar, como disse, um livro de poesias em 2011 que desde a estrutura dos versos à linguagem, a colocação das palavras, tudo irá chocar os mais conservadores. Penso que esse livro irá me salvar. Será a redenção que necessito. O ar que busco e não encontro. Poderei exorcizar minha dor de vez. Meus pulmões irão agradecer.

A linguagem para você é uma questão importante no teu processo de criação, descreva um pouco este prazer e sua interação com outros escritores.
 Pra mim, o mais importante é a música e não a rima. A poesia inclusive veio disso, dos trovadores, da melodia cantada. Mas acredito que para romper com os cânones da arte primeiro é preciso mergulhar a fundo no clássico. Hoje me dou o direito de fazer sonetos sem métrica, sem rima,  mas para isso fiz infinitos poemas metrificados. Ao escrever um poema eu sinto a canção vibrar minha alma  e meu corpo. É quase uma dança sexual de acasalamento. A palavra está me seduzindo e eu aceito  a sua corte. Mas é isso mesmo. A palavra tem que ser subvertida e a música em seu cerne deve mover-se como um deus possesso, o tão aclamado cântico dos ditirambos. A minha intereção com outros escritores deve-se quase que unicamente a internet, pois nos poucos eventos de sarau que participo sou visto como um louco, demônio e sei lá mais o quê.

Inútil. O que você tem de mais criativo e interessante você define como inútil. Esta definição vem da incompreensão do teu trabalho pelos burocratas da mídia?
Em um mundo tão injusto e cada vez mais tecnocrático, onde cada pessoa é vista como uma mercadoria, uma carne de açougue, seria estranho ver a poesia sendo encarada pela sociedade como algo útil e necessário. Penso inclusive como Leminski que ela é uma das coisas que não precisam de justificativas. A poesia É e pronto. Da mesma forma que o orgasmo não tem explicação a poesia também não. E ainda mais sendo um poeta tão “indigesto” a inutilidade torna-se maior para os olhos das pessoas e principalmente os ”burrocratas” da mídia.

Precisa dizer mais? Obrigada, Diego pelo momento de prosa explícita!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Internet, geradora de depressão.

Um dos meus hobbies é a biopsicologia. E sempre recebo artigos interessantíssimos como o que segue, que gostaria de compartilhar com o leitor após tê-lo recebido num debate sobre rede social gerando discriminação e inclusão. 
Adoro a internet e não tenho vergonha de dizer que é parte integrante da minha última temporada. Especialmente pela luz que lança sobre todas as questões e a facilidade que trás de desmascarar o mal. Pessoas que conhecemos durante uma vida inteira revelam ali no desespero de aparecer coisas que nunca poderíamos suspeitar sem a transparência desta ferramenta.


extraído do http://www.olharvital.ufrj.br/2010/?id_edicao=208&codigo=4


Quem nasceu primeiro: a internet ou a depressão?

Marina Lins – AgN/PV

Pessoas viciadas em internet são cinco vezes mais deprimidas (*) do que outros internautas. Essa ligação entre a rede e a doença foi descoberta em uma pesquisa realizada na Universidade de Leeds, na Inglaterra, que examinou 1319 pessoas com idades entre 16 e 61 anos.  
Contudo, os cientistas ainda não sabem dizer o que vem primeiro: se o uso excessivo de internet gera depressão ou pessoas deprimidas procuram mais a rede? “Agora precisamos investigar a natureza desta relação e avaliar a questão da causa”, afirmou Catriona Morrison, uma das autoras da pesquisa. 
Para debater o assunto, o Olhar Vital convidou o psiquiatra Flávio Alheiras e Paulo Vaz, professor de psicologia aplicada à comunicação da UFRJ.  Flávio Alheiras
Psiquiatra do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ
“A depressão é um transtorno que se caracteriza pela presença de humor deprimido, diminuição da energia, desesperança, pessimismo, sentimentos de culpa e menos valia, pensamentos negativos. Pode apresentar alterações do sono e do apetite e, em casos graves, ideação suicida. A depressão pode ser dividida em leve, moderada ou grave, e pode estar presente todos ou somente alguns dos sintomas citados e sua gravidade varia muito entre os pacientes. 
Ainda não sabemos o que realmente provoca a depressão. Existem vários estudos que buscam uma resposta, mas ainda são inconclusivos. Parece que é necessária a conjugação de diversos fatores para que haja o desencadeamento de uma depressão: genéticos, bioquímicos, ambientais, psicológicos etc. Não é possível atribuir aos computadores a responsabilidade por produzir depressão. Se fosse tão simples assim, a maioria das pessoas que passa o dia inteiro diante de computadores estaria deprimida, o que não ocorre. 
É possível que pessoas com uma maior tendência ao isolamento social encontrem na internet uma espécie de refúgio. E talvez algumas delas tenham um maior risco de se tornarem deprimidas. 
A internet, tão disseminada hoje, ainda é um instrumento muito recente, não sendo possível avaliar com precisão os seus efeitos. Tudo vai depender da relação do indivíduo com a rede: uns podem se tornar dependentes, se isolarem socialmente e sofrerem prejuízos funcionais. Outros podem se relacionar de maneira saudável e não apresentarem prejuízos. 
Para que uma pessoa chegue a confundir o real com o virtual, ela deve apresentar algum transtorno psiquiátrico. Distorções da realidade ocorrem em diversos transtornos mentais independente de a pessoa usar ou não a internet.” 
Paulo Vaz
Mestre em filosofia e professor de Comunicação, Psicologia e Cognição na Escola de Comunicação da UFRJ
“Os estudos de comunicação norte-americanos utilizam o termo ‘medos respeitáveis’, os respectable fears, que associa um novo meio de comunicação a uma série de problemas sociais. Como se você pensasse assim: o surgimento desse meio de comunicação vai fazer com que as pessoas não se comportem direito, ajam anormalmente, sofram etc. Eu acho que essa notícia de que a internet causa depressão faz parte desses ‘medos respeitáveis’. 
E é uma história antiga. No início do século XVII, tentavam proibir as mulheres de ir ao teatro. Achavam que, se elas vissem alguém beijando na boca, sairiam beijando na boca. Ou seja, o surgimento do teatro e sua popularização era temida e criticada pela possibilidade de levar as pessoas a serem imorais. Do mesmo modo, Dom Quixote surge exatamente quando a imprensa está se desenvolvendo e o tema é essa confusão entre o real e o imaginário. Algumas pessoas liam muitos romances de cavalaria, de heróis medievais e guerreiros, e o próprio Dom Quixote, de tanto ler, pensou que a vida dele era também a de um herói medieval. O mesmo acontece em Madame Bovary. Flaubert está criticando não mais a imprensa e os livros baratos, como no caso de Dom Quixote, mas os romances que saíam semanalmente nos jornais: os romances de folhetins. E a ideia era que a Madame Bovary lia tantos romances assim, que diziam que a mulher devia casar com o amor da sua vida, que acabou traindo o marido etc.  
Desde que a internet surgiu, há esse medo de confundir o real com a ficção e tinha-se a ideia de que internet viciaria. Foi a primeira hipótese; na verdade, como se fosse uma droga. O efeito seria o mesmo: por não suportarem a realidade da vida, as pessoas vão para um mundo imaginário, que é o mundo da internet e preferem esse comportamento de fuga a enfrentar seus problemas. Isso é tudo moralidade idiota, eu não acredito nisso. Do mesmo modo agora, a ideia é a internet causa depressão ou o contrário: uma pessoa deprimida foge para a internet. Isso é só uma pesquisa que surge porque a internet é um novo meio de comunicação e a depressão é uma nova doença. Você está tentando associar duas coisas que têm um estatuto complicado.  
A própria caracterização da depressão como doença mental é muito difícil, você  tem vários psiquiatras e psicanalistas que questionam o conceito de depressão, o que eles chamam a perda da tristeza. Antigamente, ficar triste fazia parte da vida e não era doença. Hoje, qualquer tristeza mínima já é interpretada como doença mental. Então, a própria categoria de depressão é complicada. Por sua vez, a internet é um meio novo, onde as pessoas vão colocar uma série de medos. Por exemplo, uma questão que já vinha com a TV e é a mesma história da moça no teatro: crianças que veem muito desenho animado violento se tornam violentas; garotos que jogam videogame violento vão se tornar violentos. Eu brinquei de forte Apache, vi desenhos animados violentos e não sou violento. Não é uma relação causal, é apenas um esforço social para associar dois fenômenos que chamam atenção. 
Primeiro, duvido do próprio conceito de depressão, que isso seja uma doença. Estou propondo uma visão onde se relativize a própria pesquisa. Essa pesquisa talvez derive desses “medos respeitáveis”, uma tentativa de dizer: meios de comunicação fazem as pessoas misturarem o real com o imaginário, fazem com que elas se percam nesse imaginário e, por isso mesmo, fazem-nas ficar doentes. Nesse caso, acho que os cientistas pensaram que as pessoas deprimidas não têm capacidade de lidar com seus problemas e passam a viver nesse mundo imaginário, que é o mundo da internet, com amigos virtuais. Como se você fosse preferir o imaginário ao real, confundir o imaginário com o real. Enquanto, na verdade, eu adoro literatura, ler foi decisivo na minha vida. Viver um mundo imaginário, através do qual nós sejamos capazes de abrir nossas experiências, quem nós somos, isso é maravilhoso. O que eu acho curioso é que não exista uma pesquisa desse gênero que não fale exatamente o oposto, que a internet possibilita fazer amigos e enriquecer a experiência dos indivíduos.” 


(*) Estamos todos lascados!


domingo, 12 de dezembro de 2010

Marcha fúnebre pela horda do mal

Deletaram o blog que eu sempre adorei, do grande amigo, cartunista, músico, poeta e uma pessoa inigualável, Laerçon J. Santos. E ainda pior: numa fase maravilhosa em que ele, após problemas com o PC, conseguiu voltar a postar e nos brindava com a série divã. Mas entre nós, este guerreiro não desistiu, e mesmo que se abatesse com mais este achaque, eu colocaria seus textos, HQs e tudo o mais sempre.

Longa via à nós, que não passamos por esta vida como vaquinhas de presépio.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Reconhecimento pelo pioneiro dos editores de fanzines de protesto.

Depois de inúmeros protestos aqui devido a exclusão e execração pública a que me submeteram os meus antigos ''amigos'', recebo o reconhecimento de um dos editores de fanzine dos primórdios das letrinhas de bula de remédio, cola no selo, camaradagem e amizade.



É, ''as coisas mudam''. Isso provocou uma reação da horda do mal que vocês não imaginam, e dentre os originais palavrões que me xingaram, terão que procurar mais ofensas a mulheres, mães e etc... Depois de mais esta, em que deixo bem claro a impotência que o mal tem diante da verdade, devem estar babando de ódio e rolando no chão. Será necessário mais de mil dias diante da telinha da globo para acalmar os nervos e extravasar o ódio. Tenho pena de quem, como eu, contrariar tais criaturas nas próximas décadas.
Não, eu não estou sozinha quando percebo os erros e a ganância materialista que tomou conta dos pseudo alternativos, undergrounds e outros que se apoderaram destes rótulos. Nâo estamos em sintonia fina com o que não serve mais. E agora vou cantar como o Bidê o Balde:

- Me deixa desafinaaaaaaaaarrrrrr eu tenho direito!!!!!!!!!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Laerçon, o menino azul

Minha cor favorita é o azul. Por isso o nosso querido autor do 
(e amigo dos mais queridos)...


...aqui aparece homenageado pela não mais querida, original, favorita, salve, salve, Cecília Fidelli.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Entrevistada!

Como nos velhos tempos, cá estou eu dando entrevista, com muita honra, para um dos meus blogs favoritos:

:

Valeu, gracias Diego!!!!!!!!!!!!