Enriquecendo esta nunca tão atual situação:
“Parente é Serpente”. O Ponto de vista psicológico
Sinopse do filme “Parenti Serpenti, Itália, 1993. Diretor Mario Monicelli: A ceia de Natal está pronta. A família Colapietro irradia paz e tranquilidade. A casa paterna se enche de risos, gritinhos de crianças, muitas lembranças em comum, muitos segredinhos, histórias picantes e fofocas para trocar. Antecipando as delícias da mesa, todos esperam o momento de começar a mais esperada comemoração do ano. Então, a matriarca da família anuncia que ela e o marido estão muito velhos para continuarem vivendo sozinhos e decidiram ir morar com um de seus filhos ou filhas. É claro que ninguém quer ficar com os velhos, e a festa ameaça virar uma autêntica batalha entre irmãos, todos ansiosos para se livrarem da incômoda responsabilidade.
Num encontro para a Ceia de Natal, uma típica família italiana deixaemergir um verdadeiro acerto de contas emocional, onde temas como o humor negro e ferino, solidão, velhice, homossexualismo e relações familiares são expostos na sua forma mais crua e quase inacreditável.
Cena1: o filme começa narrado por um garoto (mais parece uma redação escolar) que descreve as cenas familiares com seus conflitos e contradições de modo perplexo e inocente. A narração se dá ao longo do filme até o final.
As famílias nuclear (pai, mãe, filhos) e extensa (família de origem – avós) são retratadas pelo menino de forma ingênua, as características dos personagens são descritas como ele as vê e sente, ou seja, sem censura, restrições ou preconceitos.
Os papéis e funções são classicamente representados.
Observa-se que os ciclos de vida familiar seguiram seu curso, seus momentos, apesar de ficar descrito para nós no filme apenas a questão do envelhecimento, da morte dos pais e o próprio envelhecimento, sendo esta a questão central a ser discutida.
Cena2: todos os membros da família chegam para a ceia de Natal preparada pela matriarca - a irmã hipocondríaca e intrometida, acompanhada pelo marido e filho que nos conta a história, a outra irmã frustrada por não ter tido filhos, o irmão que vem acompanhado da esposa esnobe e sofisticada e por fim o irmão solteiro.
Nesta cena o que se vê é uma situação de homeostase, onde a retroalimentação é negativa porque é a “não mudança” que força o padrão para assim garantir o equilíbrio.
Quando os assuntos de conflito em potencial surgem - quando a matriarca fala da impossibilidade da filha de não poder gerar filhos, ou dos problemas de saúde imaginários da outra filha - eles imediatamente são evitados, isto ocorre para que o equilíbrio seja mantido, já que uma mudança poderá reverberar no sistema inteiro.
Durante o jantar a forma de comunicação que vai prevalecer é a mensagem analógica (expressão corporal e tom de voz) com um padrão de interação complementar, ou seja, uma comunicação patológica de complementaridade rígida onde há a presença de desconfirmação - a irmã hipocondríaca com um marido submisso, o irmão submisso com uma mulher dominadora e autoritária, a matriarca que impõe as regras e um marido que as aceita sem questionamento. Os dois pólos da relação estão continuamente se desconfirmando como quando a mãe diz para a filha não comer chocolate porque ela está gorda e minutos depois quando estão falamos algo que a menina não pode ouvir, a mãe diz para ela ir comer chocolate.
Novamente nas relações entre as irmãs e a cunhada, existe uma desintonia: as irmãs rejeitam a cunhada todas as vezes em que ela faz uma colocação, uma interferência qualquer, as irmãs a tratam como uma figura fútil e vulgar, mas a cunhada não se vê assim e isto ocorre de forma constante.
Também no diálogo entre os cônjuges a Pontuação de uma seqüência de eventos fica evidente: um hostiliza e o outro retrai e esta seqüência de estímulo resposta é reforçada.
A comunicação patológica associada é por discordância de pontuação por diferença de informação: os desentendimentos entre os elementos da família não se esclarecem, os dois lados são como pólos opostos que não tem as mesmas informações.
Cena3: quando a matriarca da família anuncia que ela e o marido estão muito velhos para continuarem morando sozinhos e decidiram ir morar com um dos filhos. É claro que ninguém quer morar com os velhos e a festa acaba por virar uma autêntica batalha entre irmãos, todos querendo se livrar da responsabilidade.
No início os filhos apóiam, dizendo que, de fato, eles precisam sair mais. Mas ao perceberam o que na verdade estava acontecendo, o cenário muda completamente, o silêncio reina no ambiente, as palavras não são mais encontradas, e o vazio se estabelece na medida em que nem tudo pode ser dito: muitos segredos, mágoas e ressentimentos estão guardados e prontos para saírem das profundezas.
Ocorre a homeorese (destruição do sistema, caos). O padrão de funcionamento é mantido pelos segredos, mágoas e ressentimentos. Se ele for quebrado mexe com todos os elementos. Por isso se opta pelo silêncio, porque o medo é muito grande.
Existe impermeabilização, duplo vínculo e desconfirmação.
Cena4: No jogo do empurra-empurra entre os irmãos, de quem vai ficam com os pais, todo conteúdo mantido a sete chaves aparece: a homossexualidade do irmão, a dependência da irmã hipocondríaca da família de origem (quando os pais ficam doentes é ela quem socorre, mas não faz isto por vontade e sim pelo vínculo rígido), a fragilidade da irmã que não pode ter filhos, a traição dos cunhados, a submissão do marido que aceita a traição.
Cena5: Os irmãos reunidos na festa de ano novo ouvem na televisão a notícia de uma estufa de gás que explodiu matando todos na casa. Como é inverno, quem sabe... e neste momento em que as palavras não são ditas, apenas circulam olhares, brota a idéia: presentear os pais com uma estufa de gás.
Afinal é necessário entrar em morfogênese, estabelecer um novo equilíbrio, mudar o padrão, não importa o que precise ser feito (mesmo que seja incendiar os pais).
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