Cor mais escura da água, após derretimento do gelo, faria mar
absorver mais calor do Sol
Cientistas da Noruega estão alertando para o fato de que o gelo
no Ártico está derretendo a uma velocidade maior do que a média.
Pesquisadores afirmam que o mar de gelo está ficando cada vez mais fino e
vulnerável no norte do planeta. No mês passado, o derretimento deixou o gelo do
Ártico no seu menor nível em mais de 30 anos, desde que começaram as medições
via satélite.
Os cientistas acreditam que isso possa influenciar até mesmo o clima na
Europa. O derretimento deve continuar por pelo menos mais uma semana, atingindo
o seu auge na metade de setembro, quando as temperaturas ainda permanecem acima
do ponto de congelamento.
O diretor do Instituto Polar Norueguês, Kim Holmen, disse à BBC que a
velocidade do derretimento é maior do que o esperado.
"Isso é uma mudança maior do que nós imaginávamos há 20 anos, ou mesmo há dez
anos", diz Holmen.
O instituto está enviando um navio quebra-gelo para pesquisar as condições
entre a Groenlândia e a ilha de Svalbard – a principal rota por onde passa o
gelo que sai do Oceano Ártico.
Durante uma visita ao porto, um dos cientistas, Edmond Hansen, disse que
estava "impressionado" com o tamanho e a velocidade do degelo.
"Como cientista, eu sei que isso é algo sem precedentes em pelo menos 1,5 mil
anos. É realmente impressionante – é uma mudança enorme e dramática no sistema",
diz Hansen.
"Como cientista, eu sei que isso é algo sem
precedentes em pelo menos 1,5 mil anos. É realmente impressionante"
"Isso não é um fenômeno de curta duração – isso é uma tendência contínua.
Você perde mais e mais gelo e está se acelerando – é só olhar os gráficos, as
observações, e você pode ver o que está acontecendo."
Gelo fino
Dados importantes são registrados não só pelos satélites como também por uma
série de técnicas diferentes. Uma equipe foi enviada ao gelo para perfurar
buracos e coletar dados que possam revelar a origem do gelo.
Desde os anos 1990, boias especiais ligadas ao leito do mar usam sonares que
captam dados constantes sobre a superfície do gelo.
Um equipamento eletromagnético conhecido como EM-Bird é suspenso de um
helicóptero, sobrevoando o gelo. O instrumento capta dados sobre a espessura da
camada do gelo na superfície.
Os dados mais recentes ainda estão sendo analisados, mas o cientista
Sebastian Gerland disse que já é possível perceber um padrão recorrente a cada
ano.
"Na região onde trabalhamos, nós vemos uma tendência geral de gelo mais
fino", afirma.
Onde o gelo desaparece por completo, a superfície perde a sua coloração
branca que reflete a radiação solar. A coloração escura absorve a radiação,
aumentando ainda mais a temperatura.
Algumas previsões indicam que o Ártico pode não ter mais gelo nos verões de
2080. No entanto, alguns cientistas acreditam que isso possa acontecer ainda
antes.
Ventos
Kim Holmen levanta a possibilidade de as mudanças climáticas afetarem o clima
na Europa. Segundo ele, o trajeto e a velocidade do vento são determinados pela
diferença de temperatura entre os trópicos e o Ártico.
Uma mudança climática no polo poderia provocar mudanças nos ventos que sopram
pela Europa.
"Quando não houver gelo no Ártico, a região não será mais branca e absorverá
mais luz do sol, e essa mudança poderá influenciar sistemas de ventos e onde a
precipitação ocorre. No norte da Europa, isso pode significar precipitação
maior, enquanto o sul da Europa pode se tornar mais seco", afirma Holmen.
Essa opinião é compartilhada pelo Centro Europeu de Previsão do Tempo de
Médio Alcance, entidade baseada em Reading, na Grã-Bretanha.
O diretor da entidade, Alan Thorpe, acredita que ainda é preciso evoluir na
pesquisa sobre o impacto que as mudanças no Ártico terão no clima
europeu.