quinta-feira, 9 de junho de 2011

Presente de dia dos namorados: esperança


Fonte: O Globo
RIO – Para seus médicos, Timothy Ray Brown era um tiro no escuro. Conhecido como o “paciente de Berlim”, o americano soropositivo foi curado por um tipo único de transplante de medula óssea. Tornou-se, então, um ícone do que pode ser a próxima fase da pandemia da Aids: o seu fim.
O surgimento da doença completa 30 anos hoje e avanços científicos consideráveis permitem que ela não seja mais considerada uma sentença de morte. Testes detectam precocemente o vírus e novas drogas antirretrovirais podem controlar sua difusão por décadas. Hoje, 33,3 milhões de pessoas no mundo estão aprendendo a viver com o micro-organismo e a comunidade científica global tem seu vigor renovado nas tentativas para aniquilar o vírus. A disposição tem duas origens: a ciência e o dinheiro.
O uso de drogas sofisticadas usadas por soropositivos durante toda a vida está ficando insustentável. Apenas nos países em desenvolvimento, serão necessários, daqui a duas décadas, US$ 35 bilhões por ano para combater a pandemia. É o triplo do orçamento atual, segundo a campanha não-governamental Aids2031. Some-se a isso o custo do tratamento em nações ricas e o HIV, em 2031, consumirá cerca de US$ 60 bilhões anuais.
A Sociedade Internacional de Aids assumirá formalmente este mês a meta de achar uma cura para sua estratégia de prevenção, tratamento e assistência ao HIV.
- É claro que temos que olhar para uma outra forma possível de gerir a epidemia – admite Sharon Lewin, especialista em HIV e pesquisadora da Universidade Monash em Melbourne, na Austrália.
Segundo Françoise Barré-Sinoussi, vencedora de um Prêmio Nobel por seu trabalho na identificação do HIV, a crise econômica torna ainda mais urgente a busca por uma cura.
- Precisamos pensar a longo prazo, e isso inclui uma estratégia para encontrar a cura – alerta. – Devemos manter a procura até conseguirmos um resultado.
O paciente de Berlim é uma prova de que isso é possível. Residente na capital alemã, o soropositivo Timothy Ray Brown estava morrendo por causa de uma leucemia. Em 2007, seu médico, Gero Hüetter, deu uma sugestão radical: um transplante de medula usando células de um doador com uma mutação genética rara, conhecida como CCR5 delta 32. Já se sabia há alguns anos que pessoas com essa mutação provaram-se mais resistentes à infecção pelo HIV.
- Quando começamos o projeto, não sabíamos exatamente o que aconteceria – admite Huetter, oncologista e hematologista que, agora, trabalha na Universidade de Heidelberg, no sul da Alemanha.
Brown poderia não resistir ao tratamento. Hoje, no entanto, ele é o único ser humano curado da Aids.
- Ele não tem replicação do vírus e não está tomando qualquer medicação. E provavelmente não terá mais problemas com HIV – assegura Huetter sobre o paciente.
Muitos especialistas consideram inconcebível que o tratamento de Brown sirva para todos os soropositivos. O procedimento foi caro, complexo e arriscado. Para ser aplicado em outros, seria necessário uma correspondência exata com doadores, que deveriam ter a tal mutação genética.
- É irrealista pensar que esta abordagem medicamente pesada, extremamente custosa e quase irreproduzível pode ser replicada – descarta Sinoussi. – Mas pelo menos ela mostra que a cura é possível.
O primeiro registro da Aids foi em 1981, quando cientistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA constataram a existência de uma síndrome até então desconhecida. Um artigo publicado pelo órgão em junho daquele ano referiu-se a “cinco homens jovens, todos homossexuais ativos” de Los Angeles como os primeiros casos documentados.

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