segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um lugar chamado Woodstock, do Walcir

Eu nem sei bem como começar a falar de uma lenda como o Walcir e de um lugar como foi a Woodstock the rock shop. Um lugar pro rock e para o rock muito antes de invetarem galerias da moda e derivados. Era dali pra banca do Mingrone, a única que vendia material de bandas, e voltar.

Começarei com esta imagem, de um dia de sol, numa cidade que era fria e chuvosa, onde passávamos os sábados de manhã, apesar de que nem sempre foi assim. No começo era o verbo e a loja da Rua José Bonifácio.

Nunca entendi como a polícia nunca perturbou a gente ali. A não ser quando tinha uma briga mais séria com ataques de carecas do ABC. Numa época em que o vídeo cassete era uma fortuna (em plena ditadura da fome) e só os mais abonados o possuíam, Walcir tinha a generosidade de nos exibir os shows dos quais só ouvíamos contar histórias, que geraram lendas maiores que as do Rei Arthur como a da peruca do Marky Ramone e do Ozzy ter comido morcego e estranhamente não ter contraído hidrofobia, o que seria ótimo assim não criaria o fake metal.
Ele teve também um programa de rádio, que todos nós gravávamos no domingo à noite chamado Comando Metal. Sendo as rádio rocks do início dos anos 80 um eufemismo, e tocando na sua maioria carioquismos da som Livre à título de rock, seu programa era a única coisa que honrava o nome da rádio. Ali na frente da woodstock, vivendo uma realidade hoje banal para os jovens, mas combatida a bala e foice na época, nós encontrávamos pessoas que pensavam como nós, que diziam acreditar em mudar o mundo para uma sociedade mais equalitária, e uma séria de sonhos que só eu e mais uns dois ou três realmente acreditamos e cultivamos até hoje. Pessoas que fizeram parte da nossa vida e com quem tínhamos uma convivência primeiro diária, depois semanal, mais tarde mensal e ocasional, até que todos fomos levados pela vida para vários cantos do mundo e dos planos espirituais, alguns para o Olympus. 
Ele foi pioneiro em trazer ao Brasil centenas de bandas, mas o que mais me marcou foi a vinda dos meus ídolos máximos, os Ramones. De tanto eu encher o saco na loja, ele os trouxe até mesmo lá para uma tarde de autógrafos que já contei aqui em alguma postagem, destas que faço quando preciso me encher de força para enfrentar a vida e vê-la passar cada vez mais devagar
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Sempre simpático, sempre educado, amigo, posso dizer, voltei lá uma vez após quase 10 anos e ele me sorriu pois se lembrava de mim. Ao contrário de mais de duas mil pessoas com as quais vive, levei pra morar em casa quando expulsas, ajudei e acolhi.
Não posso falar nele, naquela loja e em seu espaço imenso que poderia até ser chamado de ''Um lugar do Caralho'' não fosse o racismo dos gaúchos. Tinha o irmão do Walcir, tinha o Chico, que hoje mora nos US e é um importante músico de Jazz, tinha o Tio, que ficava na porta, e todos nós o amávamos, ele pode ser visto neste vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=9-NfZWl61R4
Ali muita gente conheceu o Metal, o Venon, o Iron Maiden, e ídolos das mais diversas eras do rock, do metal e punk e assim por diante. Foi uma época de muito sonho, muita luta, muito som, muita novidade. Hoje parece que tudo é só mais do mesmo. Nada de diferente ou original. Nós criamos os original. O novo, o ousado. Os anônimos que ficavam ali cozinhando dentro das roupas pretas ou se molhando nas manhãs de chuva, como quem se reune numa congregação. Nós realmente acreditávamos em mudança, no novo e num futuro, mas quem acertou foi o Sex Pistols - no future for you.
Sempre procuro no meu coração anônimo um pouco daquela força que juntos nós tínhamos.
Ali nasceram bandas que ganharam o mundo, pessoas que saíram da favela direto para apresentador de programa de TV, e tantas outras mágicas que um ou outro conseguem realizar. Dali saíram músicos incríveis, artistas gráficos cheios de talento e pessoas que atuariam nas mais diversas áreas, algumas fazendo uma enorme diferença.
Hoje ele re-inaugurou a loja! Muitos compareceram para homenagear não só sua ousadia e pioneirismo mas a pessoa revolucionária que já foram. Eu não estava lá em corpo presente porque o destino me exilou aqui into the wild. Mas um pedaço do meu coração ficou lá. Talvez você tropece nele no chão se passar ali em frente. Acho que na minha cremação que já caminha à passos largos, pedirei pra jogarem um pouco das minhas cinzas lá.

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