domingo, 30 de setembro de 2012

Runaways, verdades e filme

É assim que me lembro das verdadeiras Runaways: a primeira banda integrada só por mulheres, de rock, que em nada lembravam as escravas da moda com suas roupinhas imitando revistas e cabelos esticados tão cobertos de laquê que aprendi a fumar só para acender isqueiro perto delas e ver se pegavam fogo como os garotos diziam, debochando de seu esforço inútil para seduzir os estilosos.
O tempo passou hiper rápido, mas mesmo com a Suzy 4, a primeira que conheci e passei a imitar, por se parecer com o meu ideal feminino e não o resto, que me enojava, mesmo com as runaways e tantas que surgiram mais tarde, continuo sendo, como bem me define um amigo: gota de cachaça num mar de água, e a mulher um nojinho coberto de pink e fedendo a banho de perfume.

Mas estou aqui para falar do filme!


 No filme sobre as minhas queridíssimas pioneiras, vemos como seu produtor, que nem vou citar aqui, explora, rouba e humilha Cherrie Currie, consegue enganar até a esperta Joan Jet, esta uma entidade, uma das gotas de whisky no mar de hamburgers, e arruinar uma banda que poderia ser uma clássico do rock. Ali eles mostram a dura trajetória destas garotas, seus conflitos da adolescência, a cena underground, a coragem de Joan, sua generosidade, seu incrível talento, e termina com uma Joan madura, dando o passo decisivo em sua carreira, levando sua música (maravilhosa) para divulgação num programa de rádio. Vemos também a dignidade de alguém que foi tão insultada pela mídia, e que era frágil e sensível - Cherrie. O empresário olhava aquelas garotas não como pessoas, mas como uma coisa que pretendia vender, e enganou Cherrie dizendo que todas elas posariam com roupas chocantes, e isso causou uma crise que levou ao fim da banda, e a sua desistência em seguir qualquer carreira no rock. Uma pena.
Isso não é o pior problema. O maior é ver crianças que assistem e saem dizendo- ah, que vacas, elas isso, elas aquilo.


As Runaways, pelo menos para a minha geração, foi um divisor de águas. E por mais que eu odeie admitir, a atriz do crepúsculo fez um bom papel, mostrando aquele jeito meio encolhido da Joan longe dos palcos, suas poucas, mas fortes palavras, sua capacidade de dividir, de ensinar, de crescer e levar todos com ela. Para mim ela JAMAIS teve o reconhecimento devido. A cena que me fez chorar foi quando Cherrie se despede de Joan e explica que não podia lidar com os problemas, o egomaníaco empresário, a família, a dependência química e Joan, ao ficar para trás diz:
-Isso é a minha vida.
Meu Deus. Eu pensava isso quando tinha a minha banda. MInha vida acabou e eu não tive a minha ''vida'', que era estar sempre na música. A inveja, o mal caráter e o egoísmo vencem. Sempre.
Mas, voltando ao filme, vale a pena assistir. Ele mostra uma época tão diferente da de hoje, quando as pessoas tinham ideais. E tudo era novo e não banal como agora. A era do fuck the fashion, a era em que os Ramones eram uma banda cult, de poucos fãs, e foi para eles que as runaways lideradas pela Joan abriu uma tour mundial Eu não quero aquela vida de volta. Mas ela vale a pena ser vista neste filme.

No legendaryrockinterviews.com tem a entrevista deles nesta tour.

 

2 comentários:

  1. Esta nostalgia que me engasga... O tempo do idealismo e do fuck the fashion se foi e eu aqui, sentindo essa saudade angustiante de um tempo pelo qual não passeei. Ramones e The Runaways foram algumas das primeiras bandas que me fizeram erguer os olhos em direção ao faça-você-mesmo, à liberdade que tão pouco queremos. Um gosto de saudade.

    Vi
    www.bardodataverna.blogspot.com

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  2. Obrigada, Vi! Que bom saber que existe gente como você. Triste é a gente ver que os medíocres que nunca fizeram nada de revolucionário enriquecem e ganham notoriedade só com a capacidade de difamar quem fez. Um abração!

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