domingo, 26 de dezembro de 2010

Ano novo, história velha

Sempre que nem bem o estômago conseguiu digerir a montanha de guloseimas engordativas do Natal, e os ouvidos ainda não se esvaziaram do: 
-Você não vai pegar mais carne/perú/chester/pernil/bacalhau? Você não quer carne de porco porquê?
E lá vem a explicação nutricional e gástrica pela milésima vez - e o preparatório para a data que mais amo na vida vem: o ano novo na praia.

 Amo a areia porque ali todos são iguais, expostos, e amigos, solidários. Sempre tem uma alma bendita para correr atrás do guarda sol que o vento adora carregar quando estou a quatro ondas de distância da areia. E o vento fica ali, olhando e rindo. da correria, do agradecimento, do chapéu que vai parar nas providenciais mãos de outra pessoa que oferece um sorriso. Ali não tem pobre nem rico: é todo mundo avermelhado, gordinho, com dobrinhas de boa alimentação, alguns poucos esqueléticos ou de um branco arrozeado como frango congelado. Mas todos iguais por serem tão diferentes.  Nada daqueles modelos cabides de ossos. Raramente. E absolutamente recebendo a mesma dádiva dos deuses que é o mar e suas ondas deliciosas massageando o corpo e o sol. Uma luz que chega a doer. 
Na hora da virada de calendário, aquele monte de gente que nunca se viu se desejando bebadamente felicidade, por isso talves de uma maneira pura, já que in vino veritas (*). Na hora de imagináriamente entrarmos num ''novo tempo'' tão apregoado por Ivan Lins,  gente de roupa nova e linda arranca sandália da humildade, que geralmente é prateada ou dourada e se lambuza nas ondas do mar e volta invariavelmente suja pra uma duchinha rápida só ali da canela pra baixo e desmoronar no colchão lambuzada de hidratante com cheiro de mato pretextando naturalidade, doida pra acordar depressa e ver o sol nascer caminhando descalça na areia.
Mas, nem sempre é assim, por isso coloco aqui este cartão antigo:
Diz:
Te desejo sorte, e pra mim também 
melhor sorte no ano que é novo
e que dure até que o ano fique velho
e nunca te deixe pra fora no frio

Aprendi inglês recebendo e trocando música, poemas, versinhos, aprendi tanta coisa e ainda não prendi a lidar com o ser humano!
Desejo que vocês tenham não só tudo que vem no cartão velhinho resgatado do fundo de uma caixa imensa, mas que recebam a dádiva de ignorar o mal.






(*) expressão que significa no vinho a verdade, alegando que a bebedeira destrava a verdade.

4 comentários:

  1. Olá! Vim retribuir a visita e gostei muito do que li por aqui. Parabéns pelos posts criativos!!!

    Kisses!!!

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  2. Texto maravilhoso que retrato de maneira bem clara e poética o que são as festanças de fim de ano tendo como ponto principal a virada. Quem dera todos os momentos de festa fosse assim, sempre retratando o lado bom. Quanto ao fato de voce ter aprendido muitas coisas e ainda não ter aprendido a lidar com o ser humano é normal, somos "fraquinhos" moralmente ainda por isso não nos entendemos.

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  3. Sim, melhor sorte no ano que é novo.E não se culpe por não aprender a lidar com o ser humano. Não é um previlégio só seu.
    Um grande abraço e obrigado pelos comentários sempre carinhosos em meus blogs. Continuaremos parceiros em 2011.
    Bjs

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